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Notícias do CEBRAC

Amamentação

Por NATHÁLIA ANTONIO.




A maternidade é linda, e muitas mulheres sonham com o dia em que poderão ser chamadas de mãe. Entretanto, são inúmeros os desafios encontrados nesta jornada da vida materna, e um deles é a amamentação.

Amamentar é um ato de amor, mas também requer técnica, paciência, persistência e resistência à dor. Infelizmente, nem todas sabem disso, e sem ajuda, acabam desistindo dessa prática.

Para o entendimento mais aprofundado sobre algo tão importante, conversamos com Rafaela Breuel, que é fonoaudióloga, especializada na área neonatal, e fundadora do Amamenta+.

Rafaela, nesta conversa, nos esclareceu vários pontos importantes quanto ao assunto, traçando suas experiências na área profissional, e também sua importante experiência como mãe e imigrante.

Mediante consultorias, o Amamenta+ é um projeto que auxilia e incentiva mães na lactação através da informação no perfil @Amamenta.ch no Instagram, formação de cursos para gestantes, grupo de apoio no whatsapp, e assistência profissional especializada para mulheres que necessitam de atendimento.

O projeto também inclui atendimento voluntário de mulheres brasileiras em situação de vulnerabilidade social, pois a intenção é que todos os bebês possam ser amamentados.

Entrevista

Perguntei para Rafaela, como havia surgido este projeto tão relevante que é o Amamenta+, e ela respondeu que através da sua prática profissional no Brasil, somada à sua vivência aqui na Suíça, testemunhou e notou a necessidade de uma iniciativa que apoiasse mães no período da amamentação.

Fiz uma especialização na área neonatal, trabalhava com bebês prematuros ou com alguma condição clínica, fazendo com que eles retornassem à alimentação, e sobretudo, sempre que possível, focando no aleitamento materno.Trabalhei no hospital Albert Einstein, e atuei como fonoaudióloga com crianças aqui na Suíça. Quando o meu bebê nasceu, minha amamentação foi difícil. Por questões anatômicas dele, e da minha mama, foi uma estória dificultosa.”

“Após nascer, meu filho ficou na UTI neonatal durante uma semana. Experiência muito marcante para mim, que por sua vez impactou na amamentação. Para que a lactação aconteça, irá depender de vários hormônios a serem produzidos no corpo da mulher, e o estresse desregula todos eles.”

“Seja pela diferença cultural, pela forma como enxergam a lactação ou por erros dos profissionais da área, estou muito segura de que se eu não tivesse o conhecimento técnico, meu aleitamento não teria acontecido.”

"E com isso, devido a essas dificuldades que passei, e que outras mulheres também passaram ou passam, decidi fazer algo para ajudar a comunidade brasileira."

Rafaela disse que existem na Suíça profissionais comprometidos com a lactação; entretanto, a grande maioria, comparando números de estatísticas, são de condutas que não levam em conta o estabelecimento e a manutenção da amamentação, da forma como ela deveria acontecer.

Com isso, indaguei sobre quais seriam os benefícios do aleitamento materno, tanto para o bebê, quanto para a mãe. E ela me respondeu:

“São muitos! Já se encontra na literatura científica, o fato da obesidade ser mais prevalente nas crianças que não foram amamentadas, do que nas que puderam ser amamentadas.”

“Ademais, o leite humano não só é de fácil digestão, como provoca menos cólicas ao bebê, e a sucção colabora para o desenvolvimento adequado da face e da arcada dentária, bem como da fala e da respiração. Segundo pesquisas, a criança amamentada tem melhor desempenho em testes de inteligência e no futuro tende a ganhar salários mais altos.”

Um ponto de suma importância dito pela especialista, foi que o leite materno fornece muitos anticorpos para a criança, tendo em vista que, anticorpos que foram produzidos na vida da mãe, passam para o bebê através do leite. E por consequência, ele acaba ficando muito mais resistente às infecções e alergias.

“O leite materno se adapta de acordo com as necessidades da criança e é rico em nutrientes. A fisiologia da lactação é incrível.”

E continuou:

“Como benefício, no caso materno, a amamentação contribui para a recuperação do útero, diminuindo o risco de hemorragia e anemia após o parto. O aleitamento materno também ajuda a reduzir peso e a minimizar o risco de desenvolver, no futuro, câncer de mama e de ovário, doenças cardiovasculares e diabetes.”

Foi exposto, pela entrevistada, que além do seu valor nutricional, o ato da livre demanda na amamentação, possui a capacidade de ajudar a criança na regulação da fome. Ou seja, procurar a mama quando se tem vontade de comer, regula o desejo pela alimentação, e posteriormente, na adaptação da introdução alimentar.

E com isso, perguntei: Com quantos meses deve-se introduzir alimentos ao bebê?

“A introdução aos alimentos não precisa ser abrupta. Deve acontecer conforme a criança for se interessando e requisitando comida, na medida em que vê seus pais ingerindo algo que chame a sua atenção.”

“De acordo com as orientações da OMS (Organização Mundial de Saúde), o aleitamento materno exclusivo deve durar seis meses. Neste período, não se deve oferecer alimento, chás e nem mesmo água ao bebê, somente o leite materno. A introdução alimentar deve começar a partir do sexto mês de vida do neném, e deve ser realizada progressivamente, pois o leite materno ainda será a principal fonte de nutrientes do bebê por alguns meses.”

“A amamentação deve ser mantida, até pelo menos, o segundo aniversário do bebê.”

Por questões culturais, a recomendação quanto a iniciação de gêneros alimentícios, ocorre mais cedo aqui na Suíça.

Seguindo a linha de raciocínio, questionei sobre os hospitais chamados de amigos da criança. O que seria isso? E me foi respondido:

“Os hospitais amigos da criança, são hospitais certificados que seguem as diretrizes da OMS na promoção da lactação e no atendimento humanizado à mulher. E para promover essas diretrizes, eles possuem 10 passos. Dentre eles, cursos para gestantes e investimento na equipe de saúde, visando o alto preparo na assistência desses pacientes. A estadia do bebê é no mesmo quarto da mãe, em tempo integral, auxiliando assim a produção de leite. Não permitem dar mamadeira nem chupeta, nem, muito menos, fórmulas aos pequenos. Enfim, esses são alguns pontos executados, ou que deveriam acontecer, por meio desses hospitais.”

Logo em seguida, após a minha indagação, Rafaela explicou o que é o puerpério.

“Puerpério é a fase em que a mulher se encontra após o parto, quando seus órgãos ainda não retornaram à condição prévia à gestação e ela está sob influência de mudanças hormonais e psíquicas”

Durante este período, o corpo sofre transformações anatômicas e funcionais progressivas, iniciadas após o parto. Essas mudanças são fisiológicas, hormonais e emocionais.

Significativo frisar que, nesses primeiros momentos da maternidade, uma rede de apoio é quase que imprescindível na vida da mulher. E esse apoio, não vem necessariamente da família, que pode estar em outro continente, como é o caso das mães imigrantes, porém pode vir mediante amigos e conhecidos.

A entrevistada, relatou que se sentiu mais acolhida pelo povo suíço, após a chegada de seu filho. Contou que, quando voltou do hospital, havia uma placa constando a data de nascimento e o nome do Benjamin.

Foi muito emocionante para mim, receber dos meus vizinhos a placa de nascimento (Geburtstafel) . Eles tinham escrito mensagens, as crianças tinham posto as mãozinhas. Eu me senti abraçada por essa comunidade e chorei de felicidade.“

Uma conversa com alguém que esteja passando, ou que já tenha passado pelas mesmas situações, tende a melhorar o humor. Se uma pessoa amiga faz uma visita, ela alegra o dia e é revigorante. Tudo isso traz a sensação de não estar sozinho, de pertencimento. Desta forma, nota-se o quão valoroso é viver em comunidade.

Existem as barreiras linguísticas, contudo não se feche, não se isole. Tente sempre viver em conjunto com os demais.

E para finalizar, pedi à Rafaela que deixasse um recado para as mães.

“Não é fácil amamentar, mas é possível e é maravilhoso. É o melhor presente que uma mãe pode dar ao seu bebê. Busquem informações de qualidade, organizem, se possível, uma rede de apoio e procurem ajuda especializada se tiverem dificuldades. Participem de grupos de apoio e mantenham contato com outras mulheres que estão vivendo a mesma situação que vocês. Amamentar envolve doação e é um ato de muito amor.”

Posto isso, encerramos com a ideia de que ninguém é uma ilha, estejam cercadas de amigos e familiares (se possível), não deixe de pedir ajuda, procure profissionais para uma orientação confiável. E lembre-se, a amamentação precisa ser estimulada para acontecer. Cuidem-se mamães, e até a próxima!

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